Ampliar a demanda de gás do Estado do Rio de Janeiro, por meio do consumo na indústria petroquímica, pode levar a investimentos de R$ 20 bilhões na construção de novos gasodutos e infraestruturas associadas, como unidades de processamento. A conclusão é de um estudo da Firjan, que apontou que o Rio tem potencial para acabar com a dependência brasileira de importação de alguns produtos petroquímicos, como fertilizantes, devido à alta disponibilidade de gás natural na costa, utilizado na produção desses insumos.
O investimento estimado considera a construção de pelo menos três gasodutos para viabilizar a chegada da produção de gás à costa fluminense, nas cidades de Macaé, Itaguaí e São João da Barra. Juntos, esses projetos podem ampliar a capacidade de escoamento do Estado em 48 milhões de metros cúbicos por dia (m3 /dia) adicionais e resultar na criação de 180 mil postos de trabalho.
A gerente de petróleo, gás e indústria naval da Firjan, Karine Fragoso, explica que a indústria petroquímica tem demanda firme de gás, que pode servir como âncora para a construção desses novos dutos. “É mais uma opção para o gás que temos em reserva, que está sendo produzido e reinjetado. Isso caracteriza uma demanda para esse gás que pode vir a ser escoado através dessas rotas existentes e também daquelas que poderão vir a existir”, diz.
O estudo mostra que o desenvolvimento da petroquímica fluminense levaria à produção anual de 2 milhões de toneladas de metanol e 5,3 milhões de toneladas de ureia, além de 725 mil toneladas de eteno e um volume similar de propeno. Os volumes são suficientes para atender à demanda nacional.
Hoje, o Brasil é dependente da importação desses produtos, muito usados no agronegócio. “É preciso haver um olhar estratégico, que os atores econômicos privados entendam essa oportunidade.
O Rio tem posição especial, o gás está na costa, tem infraestrutura de transporte interessante, com portos, para escoar esses produtos. Se o Rio se unir à malha ferroviária nacional, se torna ponto de exportação de grãos e pode levar ao campo os fertilizantes produzidos aqui”, diz o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira. O executivo lembra que a aprovação do novo marco legal do gás natural foi importante para garantir o acesso à infraestrutura pelas empresas do setor. Ele ressalta, entretanto, que é importante haver estabilidade para atrair os investimentos nessa indústria.
O Rio de Janeiro é o maior produtor de gás natural do país. Em abril, foram extraídos 96,6 milhões de m3 /dia no Estado, segundo os dados mais recentes da ANP. Boa parte desse volume é reinjetada nos próprios reservatórios para aumentar a produção de petróleo e não chega ao mercado.
O Estado tem um grande gasoduto em operação, o Rota 2, que liga o pré-sal da bacia de Santos a Macaé. Um novo projeto vai entrar em operação este ano, o Rota 3, que vai conectar o pré-sal ao Polo Gaslub em Itaboraí. Juntos, esses projetos conseguem escoar até 38 milhões de m3 /dia. O gerente de projetos de petróleo, gás e naval da Firjan, Thiago Valejo, aponta que novos projetos petroquímicos já podem surgir no Estado mesmo sem gasodutos adicionais. Ele lembra que no Porto do Açu, em São João da Barra, há disponibilidade de gás natural liquefeito (GNL). “Há potencial de agregar maior volume de gás para o Estado, mas isso não significa que o gás que já temos não pode ser utilizado para investimentos em petroquímica.” Fragoso afirma que, apesar da abertura do mercado, a Petrobras ainda é a principal produtora de gás no país, mas que, com outros supridores, novos tipos de contratos podem surgir. “É fundamental que a Petrobras esteja nesse jogo, também buscando essas demandas firmes. A possibilidade de ter um mercado mais dinâmico é que vai trazer competição e pode de fato construir um mercado competitivo. Isso vai possibilitar ao investidor ter a segurança necessária para fazer o investimento”, afirma.
Fonte: Valor Econômico