Com uma esperada redução de suprimento de gás natural liquefeito (GNL) da Bolívia e do Campo de Mexilhão ao Estado de São Paulo, a Nova Transportadora do Sudeste (NTS) pretende compensar a queda no abastecimento com mais oferta de GNL do terminal da Baía de Guanabara e Cabiúnas, em Macaé (RJ). A empresa estuda ainda entrar no mercado de estoque em terra no Norte Fluminense para atender a demanda de termelétricas, além da expansão com novos gasodutos.
A companhia opera 15 gasodutos, numa rede de mais de 2 mil quilômetros de extensão, que conecta os Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo ao gasoduto Brasil-Bolívia e a outros dutos de transporte, terminais de GNL e unidades de processamento. A ideia é aumentar o envio de gás natural do pré-sal para São Paulo – maior centro consumidor do país – no que eles denominam de “corredor présal”. São 300 quilômetros de dutos – principalmente loops (seção paralela a gasodutos existentes) – que permitirão aumentar em 24 milhões de m3 por dia a oferta de gás do Rio até São Paulo.
Um dos pilares do plano estratégico é o investimento de até R$ 12 bilhões em oito anos e novos projetos de gasodutos. O CEO da empresa, Erick Portela, e o diretor comercial, Helder Ferraz, explicam que além de ampliar a malha, já estão com obras como estações de compressão e pontos de recebimento para suportar o escoamento do gás nacional.
A empresa vê o investimento com uma segurança para o abastecimento, além de dar mais competitividade para o mercado de gás e ampliar a base de clientes. As atualizações regulatórias com a abertura do mercado, por meio do programa “Novo Mercado de Gás”, serviram de arcabouço legal para viabilizar os investimentos.
“A oferta no médio e curto prazos nos traz evidências de que as fontes de suprimento mais relevantes para o mercado de São Paulo e do Sul começam a apresentar sinais de fraqueza. Ao mesmo tempo verificamos novas rotas de escoamento do pré-sal”, afirma Ferraz.
Um relatório da Wood Mackenzie aponta que haverá uma queda na produção do gás boliviano, passando de 1,4 bilhão de pés cúbicos por dia em 2022 para 400 milhões de pés cúbicos em 2030. Com isso, a Bolívia passará a ser importadora de gás até o fim desta década.
Portela explica que o GNL atende o mercado brasileiro principalmente para propiciar o despacho termelétrico, fato que ajudou com que as regiões Sudeste e Sul se desenvolvessem. Segundo ele, o enfraquecimento de Mexilhão e da Bolívia coincide com a previsão de injeção de gás via Rota 3, Rota 5 e Rota 4 A ou B, projetos que têm como objetivo ampliar o escoamento de gás natural que é produzido no pré-sal, vindo das bacias de Campos e Santos. Isso deve acontecer nos próximos dez anos.
“Vamos substituir Bolívia e Mexilhão por fontes de gás (totalmente) nacional para atender o mercado firme e vamos continuar desenvolvendo GNL para atender o mercado flexível”, afirmou. “Vamos fazer o estoque onshore (em terra) de GNL, que vai dar mais velocidade e proteção ao mercado, já que para comprar uma carga desse gás a disputa é enorme, pois a Europa precisa muito dele”, relata, destacando que isso pode ajudar em termos de preço e velocidade de atendimento às termelétricas.
Em paralelo, a operadora de gasoduto tem atuado na ampliação da malha. Ela já concluiu a fase de comissionamento do gasoduto Itaboraí-Guapimirim (Gasig), o que deve aumentar a capacidade de transporte de gás do pré-sal para consumidores do Sudeste. Recentemente assinou Memorando de Entendimentos (MoU) com a GNA (Gás Natural Açu), para estudos de viabilização do projeto e licenciamento de um novo gasoduto, o Gasoduto de Integração Norte Fluminense (Gasinf). Esta nova infraestrutura pretende conectar o Parque Termelétrico a gás natural, da GNA, no Porto do Açu, à malha de transporte da NTS em Macaé, no Rio de Janeiro.
A empresa foi privatizada em 2017, quando a Petrobras vendeu, por US$ 5,2 bilhões, o controle acionário para um consórcio do fundo Brookfield com a Itaúsa, além do British ColumbiaInvestment Management Corporation (BCi), o CIC e o GIC. O CEO diz que a empresa deve desenvolver o plano com recursos próprios.
Sobre a contratação compulsória de 8 GW em geração termelétrica prevista na privatização da Eletrobras, os executivos tratam o tema com ponderação. Fala-se muito que isso irá assegurar a interiorização do energético. Portela coloca que o Brasil precisa primeiro garantir que o gás brasileiro consiga suprir o mercado existente para depois saber se terá condições de criar e sustentar novos mercados.
“Viabilizar gasodutos com termelétrica em um país que tem boa parte da geração hidráulica é algo complicado, pois o despacho contínuo da térmica cria um conta a pagar”, frisa Portela.
Fonte: Valor Econômico
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