O consumo de gás natural no Brasil em 2022 cresceu 7,2% na comparação com o volume demandado em 2021, puxado pelo maior uso do insumo pelas indústrias e pelo comércio, bem como no segmento de GNV.
O resultado é reflexo da retomada consolidada das atividades econômicas do país após a pandemia. Em 2021, ainda se verificavam oscilações no ritmo da economia, ainda em função de medidas de distanciamento social. O avanço da vacinação ajudou a impulsionar a retomada da atividade econômica, o que refletiu nos números da demanda, segundo a entidade.
A alta dos preços da gasolina e do óleo diesel no ano passado também influenciou no consumo maior de GNV. Essa alta, de 5,5%, tem relação com maior conversão de veículos leves para o combustível, mais econômico do que motores a gasolina e etanol, cujos preços sofreram no ano passado. Houve também maior aquisição de veículos pesados, especialmente caminhões zero-quilômetro, movidos a GNV e biometano.
Mas esse percentual é positivo quando se desconsidera a geração térmica, cujo número distorce a comparação: em 2022, a eletricidade produzida pelas termelétricas foi bem menor porque 2021 foi o ano em que o país viveu a pior crise hídrica da história, exigindo acionamento pleno das usinas a gás natural, o que puxou o consumo para cima.
Excluindo a geração térmica, o país teve consumo de 45,082 milhões de m3 /dia em 2022, contra 42,067 milhões de m3 /dia. Quando as térmicas são incluídas no balanço do ano, o recuo no consumo médio total foi de 24%.
De acordo com Marcelo Mendonça, diretor de estratégia e mercado da Abegás, apesar do cenário positivo para a geração de energia, com chuvas abundantes que desobrigam o acionamento das termelétricas, o país é muito dependente das chuvas e caso 2023 seja um ano menos chuvoso do que o ano passado, o país estará exposto às variações de preços do gás natural liquefeito (GNL) adquirido no exterior, cujas cotações têm sido muito elevadas. O cenário de oferta apertada por causa das sanções à Rússia pressionaria o Brasil num cenário de estiagem, tanto pela dificuldade para aquisição do GNL quanto pelo preço, mais elevado, impactando as contas de energia num eventual quadro mais restritivo.
Mendonça ressaltou que o país tem restrições na infraestrutura que impedem aumento da oferta de gás natural e o volume de reinjeção é elevado, na casa de 70 milhões de m3 /dia. Para ele, medidas que incentivem aumento da oferta de gás precisam ser tomadas agora, enquanto as chuvas ainda beneficiam o setor elétrico, porque a implantação de projetos de gás demanda entre três e cinco anos entre a decisão de investimento e a operação comercial. E nesse período, o atual cenário de chuvas pode não se repetir. “A térmica é uma âncora para viabilizar investimentos na infraestrutura de gás. Precisamos aproveitar o potencial do país para trazer competitividade”, disse.
O executivo destacou que novas aplicações para o uso do gás natural vêm ganhando espaço no país nos últimos anos, como o uso em veículos pesados, cujo mercado começa a contar com oferta maior de caminhões zero quilômetro movidos a GNV e bioGNV. Essa maior procura por caminhões a gás, afirma Mendonça, também refletiu no aumento da demanda de GNV no ano passado. Mendonça vê tendência de crescimento do consumo de GNV pelo segmento pesado nos próximos anos.
A Scania é a primeira montadora de caminhões a ofertar modelos movidos a GNV e biometano, enquanto Mercedes-Benz e Iveco já anunciaram planos de fazer o mesmo em suas linhas de produtos. O executivo da Abegás observou que caso o gás natural fosse incentivado para substituir a parcela importada de óleo diesel, seja na aquisição de veículos novos, seja pela conversão de caminhões, o país evitaria uma despesa entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões.
Fonte: Valor Econômico