Dois grandes fóruns setoriais pedem ao MME que inclua o cálculo do preço do gás natural na nova política anunciada nesta semana pela Petrobras. As entidades afirmam que o gás é relevante em diversas cadeias produtivas e os preços do insumo compõem percentual considerável dos custos das indústrias consumidoras de gás.
O Fórum do Gás, entidade que reúne 18 associações cuja atividade tem no gás natural um insumo de elevada importância, e o União Pela Energia, que contempla 70 entidades e sindicatos setoriais da indústria, encaminharam carta ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, dois dias depois de a Petrobras anunciar nova política de preços para derivados. A mudança desobriga a empresa a adotar o preço de paridade de importação (PPI) e considera a formação de preços regionais, entre outros fatores.
No mesmo dia, a empresa reduziu os preços da gasolina, do diesel e do gás liquefeito de petróleo (GLP). Na carta, o Fórum do Gás e o União Pela Energia afirmam que cerca de 14% da produção de energia é oriunda do gás natural e que é notável que a política de preços da Petrobras, na condição de supridora dominante do insumo no Brasil, representa impacto direto à competitividade da indústria.
No documento, as entidades afirmam: “Tal medida busca refletir as condições do mercado brasileiro, em linha com as práticas de mercado, assim como reduzir o período de contratação do serviço de suprimento.”
O coordenador do Fórum do Gás, Adrianno Lorenzon, afirmou que antes da crise hídrica de 2021, o preço do gás da Petrobras correspondia a 11,5% da cotação do petróleo tipo Brent, subindo em 2022 para 16% do Brent. A estatal, segundo Lorenzon, justificou a alta no preço pelos maiores custos de compra do gás natural liquefeito (GNL) no mercado externo. Neste ano de térmicas praticamente desligadas e preços do GNL em queda lá fora, a Petrobras reduziu o preço para o equivalente a 14% do barril.
“É um aumento de quase 20% e tem espaço para queda. Há uma estimativa conservadora segundo a qual o ‘break even’ [preço de equilíbrio] para a Petrobras é de US$ 3,5 por milhão de BTUs (unidade de medida do gás)”, disse Lorenzon.
“Não faz sentido o preço que atualmente pagamos pelo gás natural. Ele não tem nenhuma correlação com a realidade do gás no mundo. Precisamos mudar isso urgentemente”, disse Lucien Belmonte, coordenador do União Pela Energia.
Para as entidades, a iniciativa pode ajudar no processo de “neoindustrialização”. Paulo Pedrosa, presidente-executivo da Abrace, destacou que o governo colocou em curso o programa Gás para Empregar, que é umas das principais iniciativas de fortalecimento da indústria no país, e que a proposta da carta é mostrar para o governo que uma das maiores oportunidades de benefício econômico está na maior oferta de um gás mais barato, quando há sobra de energia e oferta abundante de geração renovável.
“O gás não deve ser usado para carbonizar o setor elétrico e sim para descarbonizar a indústria” disse o executivo. Estudo da Abrace realizado no fim do ano passado indica que o gás natural mais barato pode aumentar o PIB em R$ 1,5 trilhão nos próximos dez anos.
Fonte: Valor Econômico