O descompasso entre a expansão da rede de distribuição de gás canalizado e a estagnação da malha de transporte de gás natural é uma das ameaças ao desenvolvimento do setor, segundo o especialista Bruno Armbrust, da ARM Consultoria.
“Entre 2010 e 2023, o número de consumidores de gás natural mais que dobrou, passando de 1,9 milhão para 4,6 milhões. No entanto, a malha de transporte não acompanhou esse crescimento, criando um gargalo que precisa ser resolvido para que o setor continue avançando”, afirmou Armbrust, na apresentação do painel “Infraestrutura de gás natural: desafios para a expansão”.
Ele destacou a importância do Gas Release como fator chave para a competitividade, citando exemplos da experiência em mercados europeus como Itália e Espanha, onde a migração de consumidores foi incentivada sem penalidades.
Outro ponto apontado foi a política de descontos da Petrobras. Segundo o consultor, a iniciativa vem tendo pouco impacto prático nos mercados residencial e comercial. “Os descontos oferecidos pela Petrobras no mercado regulado são pouco eficazes, pois o custo do gás [nesses segmentos] tem um peso pequeno na fatura final. Acredito que esses descontos seriam mais vantajosos se fossem direcionados ao mercado livre, onde poderiam gerar uma demanda mais expressiva”, argumentou Armbrust.
No que se refere ao mercado de gás veicular, Armbrust relatou uma queda no consumo, enquanto o uso de cogeração em indústrias e grandes comércios vem crescendo, mas enfrenta competição direta com fontes renováveis. “A rápida adoção de energias renováveis tem minado a competitividade do gás natural, especialmente no setor veicular, que hoje registra o menor consumo de sua história. Já a cogeração, que apresentou expansão nos últimos anos, perde espaço devido ao avanço das renováveis, o que limita o potencial do gás “, explicou.
Sobre os desafios para a expansão da infraestrutura, Armbrust expressou preocupação com o crescimento da geração de energia fora da malha de gasodutos, o que aumenta a pressão sobre as transportadoras de gás e gera incerteza sobre o futuro do setor. “Hoje, 56% da geração de energia acontece fora da malha, contra 12% em 2020. Isso sinaliza uma tendência preocupante, especialmente se considerarmos que os custos de transporte poderiam ser significativamente reduzidos sem os contratos legados”.
Para atrair novos investimentos, Armbrust defendeu a necessidade de um equilíbrio entre oferta e demanda no setor, enfatizando que a redução da competitividade do gás pode levar a uma retração no consumo e, consequentemente, a um aumento nas tarifas. “Precisamos garantir que o gás natural mantenha sua competitividade em relação a outras fontes energéticas, especialmente em um cenário de transição para fontes renováveis”, concluiu.
TAG sugere a criação de um hub nacional
Já o vice-presidente do Conselho de Administração da Abegás e diretor-presidente da Compagas, Rafael Lamastra Junior – disse que é preciso que o planejamento do setor seja orientado por itens como aumento de oferta e competitividade. “Acredito que esteja faltando uma coordenação dessas ações, a exemplo do que existe no setor elétrico. É um cenário que foi tutelado, desde o início, pela Petrobras, mas que está carecendo de um órgão que faça a regulação do sistema”, salientou.
Ovídio Quintana, diretor comercial e regulatório da transportadora TAG, destacou a importância de uma visão integrada do sistema de gás natural no Brasil. Ele propôs identificar os pontos de união entre os diferentes atores do setor, ressaltando o papel logístico crucial de levar energia de forma competitiva aos consumidores. “Nos convido a sermos a ‘internet do gás'”, afirmou, referindo-se à necessidade de criar um sistema eficiente e ágil, capaz de facilitar transações e atrair liquidez. Quintana trouxe a experiência de integrar oito distribuidoras no México que ampliaram a rede em 700 km, reforçando a importância de planejamento conjunto para a expansão correta dos dutos. Ele destacou também as variações de preço do gás, que podem oscilar entre R$ 1,50 e R$ 12 por m³, e a complexidade do mercado brasileiro, sugerindo a criação de um hub nacional para simplificar as transações e tornar o setor mais dinâmico.
Na opinião do assessor da Diretoria Quatro da ANP, Thiago Neves de Campos, é necessário dar foco em ações para desenvolvimento do mercado de forma mais pujante. “É um processo extenso, trabalhoso, de identificar o problema, ouvir os agentes envolvidos e identificar soluções. Existe um desafio muito grande de implementar essa política, que existe desde o decreto anterior à regulamentação do gás”, observa ele.
Na opinião de Miguel Nery, diretor-presidente da CEGÁS, é preciso haver uma ação coordenada entre as políticas energética e industrial. “O País cresceu pouco, cerca de 0,3%. Existe uma necessidade de aumento da capacidade instalada, inclusive de usinas termelétricas. Estamos aguardando o edital do leilão para possível termelétrica no Ceará, retomando a gaseificadora no Porto de Pecém”, informou Nery, complementando que a CEGÁS também possui planos de interiorização. “Atenderíamos municípios de médio porte que demandariam traçado pela borda Oeste da Serra do Cariri, chegando até a Bahia e Pernambuco, além do Ceará. Poderíamos trazer esse traslado para a borda Leste da região”, observa.
Como exemplo das dificuldades de competitividade do gás natural, o diretor-presidente da SCGÁS, Otmar Muller, citou a inauguração de um ramal de 220 km até a cidade de Lages, numa obra que alcançou 16 novas cidades no trajeto, atravessando a Serra do Mar.
O coordenador-geral do Fórum do Gás, Lucien Belmonte, destacou a importância de que todas as soluções pensem nos consumidores. “Se não colocarmos o consumidor como objetivo da expansão, não acontece nada”, avaliou.
Fonte: Abegás / Comunicação
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