Ieda Gomes: pioneirismo no setor de gás natural
Com mais de 35 anos de carreira, especialista foi a primeira mulher na presidência da Comgás e teve papel de destaque nos 8 anos iniciais da história da Abegás
Formada em Engenheira Química pela UFBA, com mestrados em Energia pela USP e Engenharia Ambiental pela École Polytechnique Federale de Lausanne, Ieda conta com mais de 35 anos de experiência internacional nos setores de petróleo, gás, energia e infraestrutura.

Ieda Gomes: mais de 35 anos de experiência internacional nos setores de petróleo, gás, energia e infraestrutura. Foto: Divulgação
O destaque é seu período de mais de 13 anos, em Londres e no Brasil, em uma das maiores companhias de energia do mundo, a BP (British Petroleum). Chegou à presidência da BP Brazil, após uma carreira sólida quebrando tabus. Ela foi a primeira engenheira contratada pela Companhia de Gás de São Paulo (Comgás), em 1979; a primeira mulher presidente da Associação dos Engenheiros; e, em 1995, a primeira mulher presidente de uma empresa estatal de energia.
Antes mesmo assumir o posto mais alto na Comgás, teve uma contribuição expressiva na Abegás. “Fui a primeira secretária executiva da Abegás, no período 1990-1995, passando então a vice-presidente de Relações Institucionais”, recorda.
Ieda foi bastante atuante. “Em meados de 1990, organizamos uma primeira visita a países vizinhos, para apresentar a recém criada Abegás e buscar cooperação entre o setor de gás no Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. Um passo importante foi a Abegás filiar-se à International Gas Union (IGU) em 1993”, recorda.
Outra participação valiosa de Ieda foi a criação de um grupo de trabalho para negociar com a Petrobras os respectivos contratos de importação de gás boliviano pelas distribuidoras de gás natural de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
“À época eu coordenava o grupo, representando a Comgás. Foi uma negociação difícil, que durou três anos, de 1993 a 1996, mas que culminou com a assinatura dos contratos de suprimento pelas empresas distribuidoras desses estados e pela viabilização do gasoduto Bolívia-Brasil, um dos marcos mais importantes na história do gás na América do Sul”, destaca.
No total, Ieda possui mais de 35 anos de experiência internacional nos setores de petróleo, gás, energia e infraestrutura. Hoje, atua em diversos conselhos. Entre eles estão o Conselho de Administração da Bureau Veritas e o do Grupo Saint Gobain, ambos na França. Mantém, ainda, uma vida acadêmica, com atividades na Oxford Institute for Energy Studies e no Conselho Consultivo da FGV Energia.
“O pioneirismo não foi destituído de muitas lutas por visibilidade e por reconhecimento, mas felizmente sempre procurei me preparar para os desafios. E tive a sorte de trabalhar com pessoas que reconheceram meu valor”, diz ela.
A participação em funções de liderança no setor de gás e energia, na avaliação de Ieda, vêm progressivamente caindo. Segundo ela, um dos motivos é a competência e dedicação das profissionais, bem como a importância do tema Diversidade no planejamento estratégico das empresas.
Embora as barreiras estejam caindo, ainda é preciso mais, diz ela.
“É importante que a indústria do gás desenvolva projetos de diversidade e inclusão, possibilitando que mulheres possam conciliar sua carreira com responsabilidades familiares, além de planos de carreira sólidos, onde a mulher possa planejar sua ascensão profissional”, conclui.
Fonte: Comunicação ABEGÁS
Katia Repsold: Country Manager da Naturgy Brasil
Minha carreira na Naturgy começou como Gerente de Qualidade. Em seguida, vivi uma experiência internacional na empresa do grupo na Argentina. No meu retorno, assumi a diretoria de Serviço ao Cliente.
De lá passei à Diretoria de Gestão de Redes e, há três anos, CEO Brasil.
Nós, mulheres, ainda enfrentamos dificuldades para obter reconhecimento no mercado de trabalho ou igualdade de condições, como remuneração, por exemplo. Para que isso ocorra, é preciso realizar bem mais e comprovar duplamente capacidade e competência. Mas esse cenário vem mudando rapidamente nas últimas décadas, isso é inegável.
Esse avanço é muito importante e está levando as empresas a implantarem processos efetivos para alterar essa realidade. Podemos perceber que empresas que não avançaram em seus modelos de diversidade estão perdendo espaço. Apostar em recursos humanos diversos não é apenas uma questão ética, é uma estratégia de negócios. É mais vantajoso em todos os aspectos, inclusive economicamente, nos resultados do negócio.
As estatísticas mostram que ainda há muito espaço a ocupar, especialmente nas posições de alta liderança e nos conselhos de administração de grandes empresas. Já notamos mudanças nas escolas e nas universidades. As mulheres ocupam a maior parte das salas de aula, desde o ensino básico até as pós-graduações, com alto rendimento. Porém, ainda notamos na sociedade brasileira a falta de representatividade na esfera política, a diferença salarial e uma diferença entre a renda média de homens e mulheres. Neste sentido, as políticas promotoras de igualdade ainda são fundamentais.
Aqui na Naturgy temos metade da diretoria formada por mulheres. Além disso, 38% do nosso quadro de funcionários é feminino. E é muito bom trabalhar com mulheres. Ao contrário do estereótipo feminino, as mulheres são extremamente engajadas e colaborativas. Saber trabalhar em cooperação é cada dia mais importante na nova economia. Tratamento igualitário para homens e mulheres, com políticas inclusivas, como licença maternidade estendida e licença paternidade ampliada, são exemplos de alguns dos avanços e debates importantes para ambos os gêneros, que já implantamos aqui na Naturgy.
*Katia Repsold é Country Manager da Naturgy Brasil desde julho de 2018. É formada em Engenharia Mecânica, com Mestrado em Tecnologia Mecânica pelo Centro Federal Celso Suckow da Fonseca, e tem experiência de atuação internacional na área de energia. Tem formação no Programa de Diretivos e em Gestão Empresarial pelo ISE Business School. Engenheira, casada e mãe de três filhos, iniciou sua carreira há 19 anos. Na Naturgy, começou em 2001 como Gerente de Qualidade e já em 2004 passou três anos e meio em uma das empresas do grupo na Argentina, atuando como responsável pela distribuição de gás. Quando retornou ao Brasil foi responsável por áreas distintas, como Serviço a Cliente e Gestão de Rede. Sua gestão é focada no cumprimento das políticas de qualidade, segurança e meio ambiente e no gerenciamento de diferentes projetos estratégicos do grupo no Brasil.
Controller da Gasmig é a primeira mulher a ocupar presidência de instância na Abegás
Daniela Infante Borges é a nova presidente do Conselho Fiscal da Associação; organismo tem outras três mulheres
Fundada em 1990, a Abegás tem um histórico de participação feminina que vem desde a gestão inicial. Mas o ano de 2021 tem um marco: pela primeira vez uma mulher lidera uma das principais instâncias da Associação, o Conselho Fiscal. Ela é a gerente de Controladoria da Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig), Daniela Infante Borges.
Uma das integrantes do Conselho na gestão 2020/2023, Daniela já era acompanhada por outras três representantes das distribuidoras associadas: Larissa Dantas (Potigás), Pryscilla Oliveira Muller (SCGÁS) e Telma Costa Thomé (Gasmar). Com a vacância do cargo, seu nome foi o escolhido.
“A Abegás demonstra que está alinhada com os princípios do desenvolvimento sustentável propostos pela ONU quando permite a igualdade dos gêneros em um conselho, quando dá espaço para que mais

Daniela Infante Borges: Foto: Arquivo pessoal
profissionais venham para o debate de estratégias e fiscalização de atividades realizadas, em sua maioria, por homens, e na busca pela transparência, pelo equilíbrio e pela excelência de suas atividades”, diz ela, ao avaliar o significado de ter seu nome eleito para o desafio.
“Além da responsabilidade inerente ao cargo, assumir essa posição demonstra que nós, mulheres, somos capazes de administrar vários papéis na sociedade, não só os tradicionais, de mãe e mulher trabalhadora, mas de profissionais reconhecidas e respeitadas, nacionalmente, que podem contribuir e liderar debates importantes, independente do mercado no qual estamos inseridas”, diz ela.
Estudiosa desde jovem, Daniela começou na Gasmig como trainee. Formada em Ciências Contábeis pela UFMG, foi aprovada no primeiro concurso público da Gasmig, em 2005. Ficou em primeiro lugar e escolheu sua vaga na Gerência de Controladoria.
A efetivação no cargo de analista era condicionada à aprovação de um projeto. “Escolhi o tema Controle Patrimonial, vislumbrando a importância da gestão de ativos para uma empresa distribuidora de gás, mesmo sem conhecer a regulação ou os impactos que, hoje, enfrentamos”, relembra.
“O curso técnico em Edificações [pelo Cefet-MG) me dava uma certa vantagem, pois a comunicação com as áreas técnicas, engenheiros, em sua maioria, era mais fácil para mim. O projeto durou um ano, foi um sucesso, e fui efetivada.”
Desde então, enfrentou uma série de desafios e foi conquistando seu espaço. “Eu me especializei em negócios, em gerenciamento de projetos, em normas internacionais de contabilidade, com foco em distribuição de gás, em tecnologia, em riscos, enfim, busquei o conhecimento como forma de validar o que percebia na prática”, explica.
“Temos que cuidar da bagagem que carregamos na vida e o conhecimento é uma das mais importantes, porque o conhecimento não pesa, na verdade, ele alivia a jornada. Homens ou mulheres, com discursos bem fundamentados e com respeito aos demais, sempre vão se destacar”, recomenda a Controller.
Segundo ela, ao longo de 15 anos, houve uma evolução no relacionamento profissional e na maneira que é visto o trabalho das mulheres na Gasmig. Mas ela considera que ainda há muito avançar.
“Algumas empresas, especialmente, relacionadas à construção civil e à energia, ainda permitem práticas de interrupção da fala de mulheres, permitem a apropriação de ideias de mulheres por homens que se posicionam de maneira autoritária, práticas de ironizar um comentário feminino, como se não tivesse valor técnico”, lamenta a executiva.
“Temos um caminho longo até o futuro”, analisa Daniela.
“Tenho muito orgulho de fazer parte de uma geração que percebeu a mudança e soube aproveitar a oportunidade para ocupar esse espaço, sem deixar de lado a luta pela igualdade e pela diversidade”, conclui a presidente do Conselho Fiscal da Abegás.
Gabriela Duarte: Diretora Técnica e Comercial da Bahiagás
Sou formada em engenharia mecânica e de produção e funcionária concursada da Petrobras. A Petrobras tem participação acionária na Bahiagás por meio da Gaspetro.
Comecei minha vida profissional na Petrobras em 2001, na recém criada Diretoria de Gás, e atuei na área comercial tanto diretamente com as Companhias Distribuidoras de Gás como na negociação do gás da Bolívia. No ano de 2014 fui convidada a migrar para o setor de distribuição em função de aposentadoria do colega que estava à frente da Diretoria Técnica e Comercial.
Em função desta experiência, quando situação similar de aposentadoria aconteceu na Bahiagás em julho de 2017, fui novamente convocada para essa nova missão. Uma grande honra.
Entendo que a formação acadêmica e profissional compatível com as exigências do cargo devem ser os principais critérios para a seleção, sempre! Na Bahiagás, o time conta com várias mulheres que são fonte de inspiração diária. Eu brinco que, se numericamente ainda estamos em desvantagem, nem parece porque nos doamos para fazer com que a nossa presença faça a diferença.
Ainda há muitos desafios a superar, para que a participação feminina na indústria de gás natural seja ainda mais expressiva, mas a evolução da presença de mulheres no setor é notável, seja numericamente, seja do ponto de vista de destaque em atuação.
Na minha visão, a pluralidade no ambiente corporativo traz uma maior conexão do microcosmo que é a empresa com o ambiente no qual ela está inserida, ambiente no qual estão os clientes, o mercado em geral, a cidade, o estado e, finalmente, o mundo. A conexão entre o que acontece dentro da empresa com o que acontece fora é importante para a sustentabilidade dos negócios em médio e longo prazos.
Na indústria de gás natural do Brasil, sem dúvida, o respeito e reconhecimento às colaborações trazidas pelas mulheres – pela junção entre a formação necessária e o olhar feminino – no ambiente de negócios cresceu muito nos últimos anos.
A presença de mulheres em posição de destaque acontece há alguns anos, e estamos falando de uma indústria relativamente jovem. Tivemos a Fátima Valéria como Diretora da Gaspetro por muitos anos, a Graça Foster como diretora de Gás e posteriormente presidente da Petrobras, a Angélica Laureano que ocupou várias posições de liderança e estratégicas na área de gás na Petrobras e foi presidente da Gaspetro.
A Larissa Dantas, presidente da Potigás, que criou talvez o grupo mais plural de WhatsApp de troca de conhecimento e ideias, com várias pessoas e líderes do setor. São cerca de 200 pessoas no grupo.
A Mitsui Gás e Energia do Brasil – acionista de muitas distribuidoras no Brasil – que teve a Ângela Fernandes à frente de áreas técnicas e nomeou mulheres para diretorias administrativas e financeiras nos últimos anos – Taciana Amaral (PBGÁS) e Eliana Bandeira (Potigás).
São vários exemplos de mulheres que desbravaram e prepararam o terreno no qual hoje podemos atuar com muito mais legitimidade.
O mercado de gás natural no Brasil passa por um momento muito especial de mudança de marcos regulatórios, abertura de mercado com a chegada de novas empresas, forte tendência de um crescimento significativo. O gás é considerado o combustível da transição da era dos fósseis para a era das novas fontes e estar presente neste momento é fazer parte da história.
Mulheres, apenas venham! Vamos ajudar a construir juntas esse novo mundo que tanto sonhamos!
*Gabriela Duarte é formada em Engenharia Mecânica e de Produção pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Tem MBA em Economia e Gestão de Energia pelo Instituto COPPEAD de Administração, e diversos treinamentos no exterior, inclusive na Oxford Princeton, na Inglaterra. Começou sua carreira na Gerência Comercial da Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga, em 2000, e é funcionária da Petrobras desde 2001.
Liana Costa e Campos: Gerente Jurídica da GasBrasiliano
Sou a primeira gerente do sexo feminino em toda a história da GasBrasiliano.
Minha carreira no setor de energia começou cedo, ainda como estagiária na Shell Brasil, quando cursava
Ciências Jurídicas e Sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Depois de formada, em 2001, continuei prestando serviços à empresa como advogada externa.
Em 2007, prestei concurso para a Petrobras, onde ingressei em 2008 e permaneci por três anos, até ser convidada, em 2011, a assumir a gerência jurídica na GasBrasiliano, que acabava de ser adquirida pela Gaspetro.
Na GasBrasiliano, além de comandar a gerência jurídica, também fui Secretária Geral e Gerente de Governança, Riscos e Conformidade. No começo, senti certa resistência, por ser um ambiente extremamente masculino. Mas, hoje, não percebo mais isso. Tenho a confiança de todos e consegui mostrar que o jurídico é um parceiro e não um empecilho.
Na minha visão, o advogado empresarial é um viabilizador jurídico de negócios e foi essa visão que busquei implantar na empresa. Como exemplo disso, cito um momento marcante em minha carreira, que foi ter sido chamada pela equipe da gerência de projetos de engenharia para participar do processo decisório referente ao melhor local para a instalação de novos dutos de uma expansão. Quando um departamento técnico chama o jurídico para participar das decisões é porque entendeu que estamos aqui para ajudar e mostrar o melhor caminho para que aquele projeto seja viabilizado e não tenha problemas futuros.
Ao longo desses 20 anos de carreira, a trajetória não foi fácil, mas os resultados obtidos são motivos de muito orgulho.
*Liana Costa e Campos é advogada sênior da Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras e Gerente Jurídica da GasBrasiliano. Formada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tem MBA em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas e é pós-graduanda em Direito Econômico e Regulatório na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), além de ter realizado outros cursos de extensão no Brasil e no exterior. Foi professora de curso de pós-graduação em Varginha/MG e de cursos de certificação de Diretores e Conselheiros das Empresas Estatais do Estado de Santa Catarina. Desde 2013, integra o Comitê de Assuntos Jurídicos da Abegás.
Mulheres ganham espaço como CEOs de distribuidoras de gás natural
Três associadas da Abegás (Naturgy do Brasil, Potigás e Gás do Pará) têm mulheres na presidência das empresas.
O setor de distribuição de gás canalizado vem avançando na participação feminina nos mais altos postos de liderança. Das 17 empresas concessionárias no quadro de associados da Abegás, três são comandadas por mulheres: Naturgy, Potigás e Gás do Pará.

Katia Repsold, Country Manager da Naturgy Brasil. Começou no setor de gás natural em 2001. Sua nomeação para comandar a empresa no Brasil veio em 2018. Foto: Assessoria de Imprensa/Naturgy
“Aqui na Naturgy temos metade da diretoria formada por mulheres. Além disso, 38% do nosso quadro de funcionários é feminino. E é muito bom trabalhar com mulheres. Ao contrário do estereótipo feminino, as mulheres são extremamente engajadas e colaborativas”, diz Katia, que também é conselheira da Abegás.No Brasil, a Naturgy é liderada por Katia Repsold. A engenheira começou sua trajetória na empresa como gerente de Qualidade. Teve uma experiência na subsidiária argentina do grupo espanhol. Ao regressar, assumiu a diretoria de Serviço ao Cliente. Seu passo seguinte foi a diretoria de Gestão de Redes. Em 2019, foi nomeada ao posto mais alto no País, liderando uma gigante que conta com mais de 1 milhão de clientes nas áreas de concessão no Rio de Janeiro e no sul do Estado de São Paulo.
Segundo ela, apostar em recursos humanos diversos não é apenas uma questão ética, é uma estratégia de negócios. “É mais vantajoso em todos os aspectos, inclusive economicamente, nos resultados do negócio.”
Mas ela acredita que ainda há muito a avançar no Brasil, especialmente nas posições de alta liderança e nos conselhos de administração de grandes empresas. “Já notamos mudanças nas escolas e nas universidades. As mulheres ocupam a maior parte das salas de aula, desde o ensino básico até as pós-graduações, com alto rendimento. Porém, ainda notamos na sociedade brasileira a falta de representatividade na esfera política, a diferença salarial e uma diferença entre a renda média de homens e mulheres. Neste sentido, as políticas promotoras de igualdade ainda são fundamentais.”
Para ela, o tratamento igualitário para homens e mulheres devem abranger políticas inclusivas. “Licença maternidade estendida e licença paternidade ampliada são exemplos de alguns dos avanços e debates importantes para ambos os gêneros, que já implantamos aqui na Naturgy.”
Outra CEO do setor de distribuição é a engenheira e advogada Larissa Dantas, primeira diretora-presidente da história da Companhia Potiguar de Gás (Potigás), a concessionária do Rio Grande do Norte.
Larissa tomou posse na Potigás em fevereiro de 2019, mas não se intimidou. Sua atuação na área vem antes mesmo do ingresso no curso de Engenharia Civil, quando começou a trabalhar na empresa da família como estagiária.

Larissa Dantas: primeira diretora-presidente da história da Companhia Potiguar de Gás (Potigás). Foto: Assessoria de Imprensa
“Precisei mostrar o meu valor, o que só me incentivou a buscar cursos de especialização em gestão e me tornar o que sou hoje. Já participei de reuniões nas quais eu era a única mulher, mas não podia me intimidar com isso”, comenta.
Segundo ela, o curso de Engenharia forneceu base para trabalhar em uma área predominantemente masculina.
“Na época, era um curso com a maioria de homens. Então esse relacionamento facilitou minhas relações profissionais. As pessoas ainda não estão acostumadas a se deparar com mulheres em posição de liderança, mas isso vem mudando com o passar do tempo”, destaca.
Para Larissa, é gratificante ter a responsabilidade de servir de exemplo para outras mulheres que estão chegando ao mercado.
Ela é otimista quanto ao crescimento da participação das mulheres no setor. “É corriqueiro o registro de elogios para as mulheres em virtude da competência e habilidade na administração de várias tarefas. A mulher tem esse aspecto multidisciplinar. A maioria delas é dona de casa, mãe, esposa, filha, além do lado profissional e acaba sendo boa em todas as áreas”, avalia.
Outro nome que está à frente de uma companhia do setor é o de Claudia Bitar, presidente da Gás do Pará. Advogada e consultora Jurídica, Claudia atua no setor público há quase 30 anos, dos quais mais de três na concessionária paraense – ainda em fase pré-operacional.
Até recentemente, outra mulher esteve no mais alto cargo executivo de uma distribuidora: Taciana Amaral Alves, na Companhia Paraibana de Gás (PBGÁS). Funcionária da empresa Mitsui Gás e Energia do Brasil, a administradora de empresas assumiu a companhia paraibana interinamente, entre o final de 2019 e setembro de 2020. Atual Diretora Administrativa Financeira, Taciana tem larga experiência no setor, inclusive em outras companhias da região Nordeste.
Fonte: Comunicaçao
Ieda Gomes: 1ª Secretária Executiva da Abegás (1990-1995) e ex-presidente da Comgás
Em 1979, eu fui a primeira engenheira contratada pela Comgás e
posteriormente, a primeira mulher presidente da Associação dos Engenheiros e, em 1995, a primeira mulher presidente de uma empresa estatal de energia.
O pioneirismo não foi destituído de muitas lutas por visibilidade e por reconhecimento, mas felizmente eu sempre procurei me preparar para os desafios e também tive a sorte de trabalhar com pessoas que reconheceram meu valor.
Nos últimos anos a participação das mulheres na liderança do setor de gás e energia vem aumentando e isso se deve à sua competência e dedicação e também à importância do tema ‘diversidade’ no planejamento estratégico das empresas. As barreiras vêm progressivamente caindo, pois no Brasil mais e mais mulheres são atraídas pelas oportunidades no setor de energia e, em particular, na indústria do gás natural, que apresenta vertente de crescimento.
É importante que a indústria do gás desenvolva projetos de diversidade e inclusão, possibilitando que mulheres possam conciliar sua carreira com responsabilidades familiares, além de planos de carreira sólidos, onde a mulher possa planejar sua ascensão profissional.
*Ieda Gomes é formada em Engenheira Química pela UFBA, com mestrados em Energia pela USP e Engenharia Ambiental pela Ecole Polytechnique Federale de Lausane. Recebeu o prêmio Veuve Clicquot – Business Woman of the Year – Brasil (2001-2002) e colunista da Brasil Energia.
Possui mais de 35 anos de experiência internacional nos setores de petróleo, gás, energia e infraestrutura. Atuou em posições de liderança por mais de 13 anos na BP PLC, em Londres e no Brasil, tendo exercido os cargos de Vice Presidente de New Ventures, Presidente BP Brazil, VP Latin America Gas and VP Market Development BP Solar. Antes da BP, Ieda foi Presidente da Companhia de Gás de São Paulo (Comgas), entre 1995 e 1998.
Carla Sautchuk: Diretora de Operações e Serviços da Comgás


Em 2020, recebi o convite para ocupar a cadeira de Diretora de Operações, liderando uma equipe de mais de 500 pessoas. Sou a 1ª mulher a ocupar este cargo na história da Comgás. Refletindo sobre o ano de 2020, este sem dúvida foi um dos anos de maior resiliência e aprendizado que vivi. Superamos cada obstáculo graças a um time forte e de alta performance. Com a nova dinâmica do trabalho, me dediquei a manter a operação com segurança e sempre cuidando das pessoas. Está na minha essência manter uma escuta ativa, pois só assim somos capazes de aprender e sermos empáticos. E sem nunca deixar de desafiar a equipe na busca pela transformação, eficiência e evolução. Apesar de todas as mudanças pelas quais temos passado no Brasil e no mundo, encerrei 2020 com a sensação de dever cumprido, e tenho muita gratidão por isso.
Este ano, recebi a nomeação de ‘Embaixadora da Diversidade’ na Comgás. Mais um desafio que me orgulha demais e que reforça a nossa dedicação na promoção de um ambiente ainda mais igualitário e de respeito dentro e fora da Comgás. A jornada é longa e cheia de obstáculos, mas tenho o compromisso de impulsionar a discussão da diversidade e equidade para constuirmos uma sociedade mais justa para todos.
* Carla Sautchuk é formada em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Ingressou na Comgás em 2014, como Superintendente de Desenvolvimento e Inovação. Em 2016, assumiu a gerência executiva de gestão de ativos. Em 2020 tornou-se a primeira mulher a ocupar o cargo de Diretora de Operações e Serviços da Comgás.
Scarlet Carpes: Gerente de Gestão de Pessoas da Sulgás

Elas contribuem amplamente para o alcance dos objetivos estratégicos e esse trabalho é tão significativo que as levou a postos de gestão com elevado nível de representatividade. Importante dizer que não há diferenciação no tratamento aplicado às gestoras em virtude do gênero. Há oportunidades e cobranças para ambos, homens e mulheres, em quaisquer áreas da Sulgás.
Como empresa pública, a Sulgás tem seu processo de admissão por concurso público, que por suas próprias características, traz isonomia às possibilidades de contratação para homens e mulheres.
Nossas políticas de pessoal e benefícios também refletem esse tratamento isonômico e a busca por um ambiente “salutar” e seguro para a mulher.
Entre essas medidas estão a matriz salarial única para todos os empregados de mesmo cargo, com possibilidades de crescimento na carreira iguais para os colaboradores; a adesão ao Programa Empresa Cidadã, com ampliação das licenças maternidade e paternidade; e a ampliação da redução de jornada diária prevista na legislação para mulheres que estejam amamentando, até a criança completar um ano de idade.
Também valem ser citadas as práticas de reconhecimento e integração em datas comemorativas, incluindo o Dia Internacional da Mulher; a fixação de regramentos internos que reforçam o respeito e a igualdade ente os colegas, e coíbem práticas discriminatórias de qualquer natureza, como o Código de Conduta e Ética e normas disciplinares.
Outras iniciativas relevantes são a oportunização de treinamento e capacitação profissional para todos de forma igualitáris; e as ações de fortalecimento da cultura organizacional, através de eventos corporativos anuais, com apresentações de temáticas variadas, incluindo relações humanas, e de condução/representação por empregados de ambos os gêneros.
Como reflexo dessas e de outras ações, temos mulheres em todas as linhas de frente, atuando em atividades de fiscalização de obras, comerciais, de projetos de engenharia, coordenação e gerência de áreas, assistência executiva à Diretoria, e inclusive em órgão da estrutura diretiva da Sulgás. E isso se aplica a empregadas concursadas e estagiárias, que também estão atuando em diversas áreas técnicas da Companhia. É um processo que ocorre naturalmente na empresa.
Não podemos esquecer toda a luta feminina que se deu para que a paridadade de condições tenha se tornado um tema relevante e sua implementação perseguida por organizações de todos os mercados no mundo. Na Sulgás não é diferente. Por isso buscamos não só prover condições e oportunidades iguais, como reconhecer os nossos talentos independente de gênero.
As colaboradoras da Sulgás são extremamente qualificadas, determinadas e comprometidas a trabalhar em prol da Companhia, percebendo o valor da Sulgás e se orgulhando dela. Têm garra e muita competência para contribuir nesse mercado ainda em expansão, se inserindo muito bem em todos os aspectos que busquem esse crescimento. Inclusive dentre os alunos de nosso Projeto Pescar vemos um crescente interesse de meninas em adquirir formação de gasista para atuar nesse ramo.
A todas as mulheres da Sulgás, gostaria de ratificar que, junto dos nossos demais colegas, são imprescindíveis para que a organização alcance seus objetivos, e que o seu protagonismo nos diversos processos da empresa somente ilustra o quão capazes elas são.
Importante dizer que a luta pela igualdade deve continuar, e buscamos contribuir cada vez mais para isto.
* Scarlet Carpes é pós-graduada em Gestão Estratégica de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Graduada em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo (2006) e em Administração de Empresas (2012) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Atua há 11 anos na área de Recursos Humanos da Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul – Sulgás, sendo Gerente de Gestão de Pessoas da organização há seis anos. Também possui experiência profissional em jornalismo impresso, Assessoria de Imprensa, e atividades relacionadas à Administração de Empresas, tendo atuado junto a instituições privadas de diferentes segmentos, bem como a órgãos públicos.
Daniela Infante Borges: Presidente do Conselho Fiscal da Abegás e Controller da Gasmig
Ser eleita presidente do Conselho Fiscal de uma associação como a Abegás tem um grande significado pessoal e, acredito, também para as mulheres que atuam no setor de gás natural.
Com essa nomeação, a Abegás demonstra que está alinhada com os princípios do desenvolvimento sustentável propostos pela ONU quando permite a igualdade dos gêneros em um conselho e quando dá espaço para que mais profissionais venham para o debate de estratégias e fiscalização de atividades realizadas, em sua maioria, por homens. E, não menos importante, na busca pela transparência, pelo equilíbrio e pela excelência de suas atividades.
Além da responsabilidade inerente ao cargo, assumir essa posição demonstra que nós, mulheres, somos capazes de administrar vários papéis na sociedade, não só os tradicionais, de mãe e mulher trabalhadora, mas de profissionais reconhecidas e respeitadas, nacionalmente, que podem contribuir e liderar debates importantes, independente do mercado no qual estamos inseridas.
A presidência, por fim, é mais um reconhecimento a uma trajetória que começou com a minha aprovação no primeiro concurso público da Gasmig, em 2005, quando fiquei em primeiro lugar entre os trainees de ciências contábeis, o que me permitiu escolher a vaga na Gerência de Controladoria. Lembro que minha efetivação no cargo de analista era condicionada à aprovação de um projeto. Escolhi o tema Controle Patrimonial, vislumbrando a importância da gestão de ativos para uma empresa distribuidora de gás, mesmo sem conhecer a regulação ou os impactos que, hoje, enfrentamos. O curso técnico em Edificações no Cefet-MG, me dava uma certa vantagem, pois a comunicação com as áreas técnicas, engenheiros, em sua maioria, era mais fácil para mim. O projeto durou um ano, foi um sucesso, e fui efetivada.
Na Gasmig, ao longo de 15 anos, enfrentei muitos desafios e tive a sorte de contar com bons professores, pessoas que, aos poucos, foram reconhecendo a minha competência e dedicação. Fui conquistando o meu espaço e a confiança das equipes.
Como a Gasmig era composta por profissionais de carreira do acionista controlador, com os quais também aprendi muito, o tempo foi um fator importante para que eu ocupasse mais espaço nos debates. Eu me especializei em negócios, em gerenciamento de projetos, em normas internacionais de contabilidade, com foco em distribuição de gás, em tecnologia, em riscos, enfim, busquei o conhecimento como forma de validar o que percebia na prática.
As minhas colegas de Gasmig que trilharam caminhos parecidos, e hoje são gerentes reconhecidas e fonte de inspiração para outras colegas. Tenho muito orgulho de fazer parte de uma geração que percebeu a mudança e soube aproveitar a oportunidade para ocupar esse espaço, sem deixar de lado a luta pela igualdade e pela diversidade.
É claro que ainda há desafios para que as mulheres tenham mais oportunidades. São desafios que permeiam a nossa sociedade, como a visão de que as mulheres supostamente precisem se dedicar mais à família do que os homens ou de que tenham menos estabilidade emocional ou, ainda, de que uma mulher em idade fértil supostamente coloque em risco a produtividade da empresa, como se a dedicação à saúde e à família fossem diferentes para cada gênero. Essa visão, que deveria ser ultrapassada ainda é uma realidade no Brasil.
Algumas empresas, especialmente as relacionadas à construção civil e à energia, ainda permitem práticas de interrupção da fala de mulheres, permitem a apropriação de ideias de mulheres por homens que se posicionam de maneira autoritária, práticas de ironizar um comentário feminino, como se não tivesse valor técnico.
O mercado de capitais já sinaliza uma mudança importante ao restringir acesso ao crédito para empresas que não cumpram requisitos mínimos de sustentabilidade, de igualdade de gênero em posições de liderança, de transparência de processos e de gestão.
Mas certamente temos um caminho longo até o futuro, onde questões de preconceito de gênero, raça, religião, entre outros, sejam superados e retirados da nossa sociedade, não apenas por motivações financeiras ou institucionais, que aparecem em relatórios anuais, mas pela essência de uma evolução da humanidade.
Entendo que a pluralidade, por si só, já represente um benefício para qualquer ambiente. Os pensamentos são complementares. Precisamos de pessoas que tenham visões diferentes do mundo para que o produto final seja completo e, não apenas, facetas de uma realidade enviesada.
As mulheres, em geral, são mais cuidadosas aos detalhes e pensam nas consequências no longo prazo. Há vários estudos que apontam resultados melhores em empresas lideradas por mulheres. Eu percebo que isso é verdade e atribuo ao senso de pertencimento, ao senso de complementariedade, de participação que é gerado por essas mulheres, que buscam espaço por meio da agregação e não da separação.
Elas também buscam formar equipes que se apoiam, sustentadas em princípios como confiança e parceria, respeitando a individualidade, alinhando valores pessoais aos valores corporativos. Os resultados são consequência de ações coordenadas, consistentes, respeitosas e engajadas. Se não houver paixão, se não houver motivação e envolvimento real de todos, com uma boa liderança, os resultados não se materializam.
Posso dizer, com segurança, que houve uma evolução no relacionamento profissional e na maneira que o trabalho das mulheres é visto, um reflexo do que é percebido no Brasil e no mundo.
Temos que cuidar da bagagem que carregamos na vida e o conhecimento é uma das mais importantes, porque o conhecimento não pesa, na verdade, ele alivia a jornada. Homens ou mulheres, com discursos bem fundamentados e com respeito aos demais, sempre vão se destacar.
*Daniela Infante Borges é formada em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É especialista em Gestão com Ênfase em Negócios pela Fundação Dom Cabral e tem MBA em Gerenciamento de Projetos pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Na Gasmig, é responsável pelas equipes de contabilidade, tributário, orçamento, gestão de ativos (controle patrimonial) e informações financeiras para RI. É coordenadora do Comitê de Investimentos e membro do Comitê de Ética. Coordena o projeto de Convergência das Demonstrações Financeiras da Gasmig ao padrão internacional, IFRS; e coordenadora do Comitê de Práticas Contábeis da Abegás. É, ainda, membro do GT de Concessões de Conselho Federal de Contabilidade.