Em meio à subida dos preços do diesel e rumores de uma nova greve dos caminhoneiros, a Petrobras anunciou ontem que passará a trabalhar com reajustes menos frequentes nas suas refinarias. A estatal recuou da estratégia de mexer nos preços sem uma periodicidade definida e passará a mantê-los estáveis por um período mínimo de 15 dias.
A petroleira informou que os preços do diesel nas refinarias serão reajustados “por períodos não inferiores a 15 dias” e que o compromisso com preços de paridade internacional está mantido.
Já a BR Distribuidora anunciou que espera concluir em 90 dias o desenvolvimento de uma espécie de cartão pré-pago que permitirá que caminhoneiros e proprietários de frotas comprem diesel a valores pré-determinados. O projeto já vinha sendo publicamente defendido pelo presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, nos últimos meses, mas o anúncio formal ocorre num momento em que voltam a circular, nas redes sociais, ameaças de uma nova greve
Embora a paralisação seja descartada pelas principais lideranças da greve de maio de 2018, o aumento dos preços do diesel é um tema sensível para o presidente Jair Bolsonaro desde o primeiro dia de seu mandato, quando se encerrou o programa de subvenção do governo Michel Temer e havia um temor de que os caminhoneiros voltassem a protestar. No último dia 20, Bolsonaro publicou, no Twitter, que o preço dos combustíveis “é uma das principais reclamações do brasileiro” e que ele vinha conversando com os “ministérios responsáveis” sobre o assunto.
Na prática, a petroleira já não vinha adotando reajustes diários, como no período pré-greve. Desde o início do ano, a empresa, por meio de mecanismos de hedge, consegue travar os preços nas refinarias. No acumulado do ano, fez 13 reajustes até o momento – uma média de um a cada seis dias.
A Petrobras esclareceu que continuará a utilizar mecanismos de proteção, como o hedge com o emprego de derivativos. A empresa defende, ainda, que a nova periodicidade concilia seus interesses, ao manter a paridade de preços internacionais, ao mesmo tempo em que atende às demandas dos consumidores por menor volatilidade nos preços, no curto prazo.
Os rumores de uma nova greve dos caminhoneiros ocorrem num momento em que os preços do diesel atingem seus patamares mais altos no ano. Segundo dados da empresa de pesquisa de mercado Triad Research, o preço médio do litro do diesel nas bombas atingiu, no dia 24 de março, R$ 3,653, na média do país. Já o levantamento da Agência Nacional de Petróleo (ANP) mostra que os preços médios de março são os maiores em quatro meses.
Apesar disso, os dados do mercado indicam que os reajustes da Petrobras não têm sido repassados, na íntegra, aos consumidores finais. Desde 1º de janeiro, a alta acumulada nas refinarias é de R$ 0,28 o litro, mas, na bomba, o aumento médio do preço para o consumidor final foi de R$ 0,10 o litro, de acordo com a Triad e ANP.
A reclamação dos caminhoneiros não se restringe aos preços do diesel. Além de um reajustes mensais, a categoria também reclama que a tabela de preços mínimos de fretes para o transporte de cargas, prometida pelo governo Temer, não está sendo cumprida.
“O problema dos transportadores não é o preço do diesel. É que o país não cresce e não há carga. Precisamos solidificar o conceito de liberdade de preços”, avalia o presidente da Associação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Lubrificantes, Logística e Conveniência (Plural), Leonardo Gadotti.
A mudança na periodicidade dos reajustes do diesel não gerará impactos financeiros para a estatal, se ela se mantiver alinhada à paridade internacional. Analistas consultados pelo Valor, no entanto, alertam que a medida lança dúvidas sobre como vai se comportar o market share da companhia.
“Ajuda a reduzir a volatilidade nos preços do diesel para os consumidores. Para a Petrobras, depois que ocorrerem os repasses a cada 15 dias, valerá a pena monitorar o comportamento dos importadores e o market share da companhia no mercado doméstico, bem como [o nível] de utilização das refinarias”, avalia Gustavo Allevato, analista do Santander.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, as mudanças dificultam o monitoramento sobre eventuais práticas anticoncorrenciais por parte da estatal. Ele explica que, ao congelar os preços por 15 dias, fica mais difícil fazer a comparação entre a refinaria e os preços de referência do mercado, que têm
base semanal. “Dificulta a transparência, perde-se a referência de comparativo semanal”, disse.
Já o sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, destaca que a medida pode gerar insegurança regulatória, justamente no momento em que a companhia pretende vender suas refinarias. “O mercado vai ficar mais especulativo”, avalia.
Fonte: Valor Econômico
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