Um dos atores mais ativos no processo de abertura do mercado brasileiro de gás natural, a New Fortress Energy, empresa americana controlada pelo fundo de private equity Fortress, prevê investir US$ 350 milhões (R$ 1,8 bilhão) nos próximos doze meses no país. Dona de terminal de importação de gás natural liquefeito (GNL) no Sergipe, a companhia tem planos de instalar mais três plantas do tipo até o primeiro semestre de 2022 e construir termelétrica de 288 megawatts (MW) no Porto de Suape (PE) até o fim de 2022.
Em busca de novos clientes, a empresa participa das chamadas públicas promovidas pelas distribuidoras estaduais do Nordeste e Centro-Sul. A companhia também celebrou o primeiro contrato no mercado livre, com a Unigel, e se prepara para participar dos próximos leilões de energia, com novos projetos “gas-to-power” (que integra gás e energia).
A New Fortress Energy anunciou, em janeiro, sua entrada no Brasil por meio de um pacote de aquisições de US$ 5,1 bilhões. Comprou a Golar Power e herdou o projeto “gas-to-power” do Sergipe, já operacional, além dos projetos de terminais de GNL em desenvolvimento em Santa Catarina e no Pará. Na mesma ocasião, adquiriu contratos de compra e venda de energia (“PPAs”) de duas térmicas que pertenciam à BR Distribuidora e à chinesa CCETC.
A empresa tenta uma solução regulatória com as autoridades para mudar os PPAs originais, de 2006, que previam a construção de duas térmicas a óleo diesel na Bahia, mas que nunca saíram do papel. O plano é deslocar o local de instalação da termelétrica para as proximidades do futuro terminal de GNL da companhia em Suape. A ideia também passa por mudar o combustível original para gás, o que possibilitará a redução do custo variável unitário (CVU) do projeto. A companhia espera resolver essa questão ainda em setembro.
Com as aquisições, o Brasil passa a ser um dos mercados-chave da New Fortress Energy. Ela possui outros seis terminais instalados nos EUA, México, Jamaica e Porto Rico, além de mais três projetos em desenvolvimento, na Nicarágua, Sri Lanka e Irlanda. O mercado brasileiro é o líder em número de projetos na carteira da empresa.
“O momento do mercado [no Brasil] é único. Assumimos um legado de ativos estratégicos. São projetos que fazem muito sentido, mas talvez fossem um pouco carentes de investimentos [antes da entrada da New Fortress Energy]. O que conseguimos, de forma feliz, foi trazer projetos bem pensados, casando liquidez com o acervo estratégico de ativos”, afirmou o vice-presidente de novos negócios da companhia, Jeremy Dawson.
Dawson diz que, por contar com o suporte de um fundo de private equity, a companhia está bem capitalizada para auto-financiar os projetos. “Isso nos dá a oportunidade de colocar os terminais [em operação] de forma rápida”, disse. Cada projeto, segundo ele, tem sua própria curva de crescimento, dada as características específicas de cada mercado. O terminal catarinense, por estar próximo a uma base industrial mais forte, com demanda reprimida devido às restrições hoje existentes na capacidade do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), deve ganhar tração rápido.
O empreendimento está previsto para operar a partir de abril de 2022. Enquanto a unidade não estiver conectada ao Gasbol, a intenção é fornecer GNL ao mercado local via sistema rodoviário. A empresa participa da chamada pública da distribuidora SCGás e mira ainda o mercado livre e termelétricas. Na região, a usina de Araucária (PR), por exemplo, tem problemas recorrentes de acesso a gás.
Já em Suape (PE) e Barcarena (PA), os terminais estão ancorados no conceito “gas-to-power”. No Pará, a companhia instalará, em parceria com a Evolution Power Partners, usina de 605 MW, prevista para 2025. A ideia é que a companhia comece a fornecer gás para o mercado local a partir de 2022. A New Fortress tem memorandos de entendimento assinados tanto com a concessionária Gas do Pará, que não opera, hoje, devido à falta de acesso ao gás no Estado; como também com a Hydro, para contrato de 15 anos para entrega de gás à Alunorte.
Ainda no mercado industrial, a empresa fechou em agosto o primeiro contrato no mercado livre de gás. Ela chegou a um acordo de cinco anos de duração, válido a partir do primeiro trimestre de 2022, para suprimento das fábricas de fertilizantes que a Unigel arrendou da Petrobras na Bahia e Sergipe. O gás virá do terminal de Suape. A companhia participa do processo competitivo aberto pelo porto pernambucano para acesso temporário e definitivo à área para o terminal. O terminal de Suape será o único da New Fortress a ser construído com acesso à malha nacional de gasodutos.
O terminal pernambucano terá capacidade para regaseificar 15 milhões de metros cúbicos diários (m3 /dia), dos quais 1,5 milhão de m3 /dia será destinado ao projeto termelétrico desenvolvido pela companhia em Suape e mais 3 milhões de m3 /dia à Unigel. A empresa também possui acordo com a distribuidora Copergás (PE) para suprimento de GNL de pequena escala para o interior do Estado.
O também vice-presidente de novos negócios da companhia, Leandro Cunha, diz que mantém conversas com a Transportadora Associada de Gás (TAG) para contrato de curto prazo que a permite entregar gás à Unigel. O executivo também mencionou que negocia com a TAG e a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG) para, no futuro, conectar também os seus terminais no Sergipe e Santa Catarina à malha. “Estamos confiantes de que teremos uma solução, é um desafio para todos. É uma coisa nova”, afirmou.
Ele diz que, em Pernambuco, a ideia é acelerar a construção da termelétrica no contexto da crise hídrica. Cunha afirma que a crise hídrica no país “é meio cíclica” e que a aquisição não foi uma “coisa oportunística”, pensada na crise de curto prazo, mas sim com uma visão estrutural. “O Brasil precisa de térmicas a gás”, diz.
Fonte: Valor Econômico