A Edge, empresa do grupo Cosan, firmou uma parceria com a Virtu GNL para fornecer 150 mil metros cúbicos diários de GNL equivalente, destinado ao abastecimento do setor de transportes pesados. O objetivo é que a Virtu utilize esse combustível em sua frota de caminhões, atendendo clientes que buscam substituir o diesel no transporte de cargas. O GNL é uma forma de gás natural que é resfriada para se tornar líquida e facilitar o transporte e armazenamento. Demétrio Magalhães, CEO da Edge, em entrevista ao Valor, afirma que este volume é equivalente ao consumo de aproximadamente 800 caminhões.
O contrato entre as empresas possui duração de dez anos e deve começar no quarto trimestre de 2025, e o GNL será disponibilizado na região Sudeste, a partir do Terminal de Regaseificação de São Paulo (TRSP), localizado na Baixada Santista. “Um dos setores que tem maior potencial, quando a gente olha o tamanho de mercado e agenda de competitividade e descarbonização, é o da frota pesada no Brasil, que é responsável por 65% das emissões do modal rodoviário (…). O modal rodoviário pesado tem um consumo de diesel da ordem de 150 milhões de m3/dia de gás natural equivalente, que é três vezes mais que o volume total de gás consumido no mercado brasileiro, excluindo consumo termelétrico”, disse Magalhães. A Edge compra gás no mercado internacional e o comercializa no Brasil, contando com diversas fontes de suprimento, incluindo a Bolívia e o pré-sal, além da possibilidade de contratar produtores locais.
A empresa também aposta em fontes renováveis, como o biometano — gás renovável obtido pela purificação do biogás — em acordos comerciais firmados com a Orizon e São Martinho. A companhia tem importantes acordos comerciais com distribuidoras de gás, como na parceria feita com a Comgás (também controlada da Cosan) e com a SCGás. O mercado industrial é outro foco da empresa para clientes conectados à malha de gasodutos e firmou os primeiros contratos no mercado livre de gás em São Paulo.
José de Moura Jr., CEO da Virtu GNL, diz que a empresa está investindo R$ 1,5 bilhão na construção centrais de descarbonização rodoviária (CDR) e na compra de caminhões movidos a GNL. Estes pontos de abastecimento com o gás da Edge ficam em Cubatão (SP), Uberlândia (MG), Limeira (SP) e Brasília para suprimento da própria frota da Virtu, permitindo maior capilaridade do gás em regiões sem infraestrutura de gasodutos, já que cada veículo tem uma autonomia de até 1.200 quilômetros. Essa logística faz parte da estratégia da Virtu para a criação do que o executivo chama de “corredor verde” — uma rede de infraestrutura para o abastecimento de GNL que visa facilitar o transporte de cargas por todo o país, do Norte ao Sul, com menor impacto ambiental. A empresa já conta com contratos em operação, como o firmado com a Yara Brasil, que utiliza caminhões movidos a GNL para a distribuição de fertilizantes. Esta é a segunda parceira da Virtu para receber gás, que recentemente fechou com a Eneva o fornecimento da molécula de GNL do Maranhão com previsão de expansão para outros estados para sua frota de caminhões.
E mesmo com o diesel sendo subsidiado no Brasil e o GNL estar mais exposto às variações do contexto geopolítico, Moura frisa que o uso do GNL tem vantagens econômicas equivalentes. “Com isso, vamos de São Luís (MA) a Santos (SP) em um corredor verde (…). A conta fechou para cliente embarcador fazendo todo sentido o transporte movido a GNL, ofertamos competitividade de preços com o diesel, além dos ganhos ambientais”, diz Moura. O executivo diz que sua frota transportará grãos, suco de laranja, fertilizante, minério, entre outros, com impacto reduzido, já que as emissões de gases de efeito estufa do GNL são significativamente menores comparado com o diesel. O GNL é visto como uma alternativa mais limpa ao diesel e uma opção estratégica para regiões sem acesso aos gasodutos. Um dos planos da Edge é atuar no suprimento de GNL via modal rodoviário para clientes aqueles não conectados à malha de gasodutos de distribuição de gás (off-grid). Já a Virtu quer tirar proveito da oferta de um combustível mais eficiente e competitivo. O crescimento do mercado livre de gás, a integração de novos fornecedores, os projetos de terminais adicionais estão entre as principais iniciativas para aumentar a oferta de GNL no Brasil.
Fonte: Valor Online